SEMIÓTICA é um tapa olho de pirata?

Semiótica ou Semiologia?

O que dizer da tal "Semiótica"?



Seria mesmo um Pirata de tapa-olho? Uma Semi-optica?

Ou isto seria meramente uma anedota ou chiste? Uma evasão furtando-se ao verdadeiro conhecimento, reduzindo a Semiótica a blague ou anedota para disfarçar o medo da complexidade do mundo?

Pondero com cautela que eu mesmo estudei e usei muito o instrumento analítico da "Semiótica".

1) Eu comecei ainda pré adolescente com a "Teoria dos Signos" Européia (Roland Barthes, Buyssants, Umberto Eco, etc.) chamada à época "Semiologia" e ligada ou quiçá até mesmo derivada da "Linguística" de Saussure.

Nesta época da minha vida eu cursava o segundo grau técnico de "Tradutor Intérprete", curso de cinco anos com ampla carga horária de Linguística, Estilística, Fonética, Literaturas, História, Português, Francês, Espanhol, Inglês, etc.

E neste ambiente, 50 anos atrás, foi quando iniciei o meu uso da "Semiologia".

Tal "Semiologia" propõe reduzir os sistemas simbólicos a um paradigma verbal binário de forma e conteúdo, ou seja: significante-significado.

Sugiro ler no livro "MITOLOGIAS" de Roland Barthes o curto texto de 3 páginas "Bife com batata frita" mas antes dele ler o livreto inteiro do mesmo Barthes "LESSON (A AULA)"; um livrinho curto o qual registra a "primeira aula de Semilogia do mundo dada em uma Faculdade", a Sorbonne de Paris, França, na qual, sem Barthes saber, uma aluna taquigrafou a aula inteira e deu de presente a ele datilografada, Barthes levou o texto a uma editora e o opúsculo virou documento histórico e é útil por definir e explicar o que seja a tal da "Semiologia" e seu uso.

Também indico os livros de Umberto Eco "A Estrutura Ausente" e "Do texto ao contexto".

2) Outro modelo rival à Semiologia franco-italiana é a Semiótica russa, eu considero esta um instrumento de narrativa que, no meu entender, foi iniciada por Propp no livro "Morfologia do Conto Fantastico" oriundo da pesquisa de folclore popular e o qual, para mim, foi depois melhor estruturada por Greimas, muito embora a maioria dos pesquisadores só exaltem Todorov e Ivanov, aqueles da "Semiótica da Cultura".

Os eslavo-tchecos-russos identicaram estruturas narrativas literárias em toda cultura humana; e até um jogo de futebol pode ser narrado em fases pelo locutor, tal qual foi narrada a "Epoppeia de Gilgamesh" ("aquele que olhou no abismo") os poemas do cego Homero ("Ilíada" e "Odisséia") o ciclo arthuriano, ciclo caroligero, e todas as outras "grandes narrativas fundadoras" dos idiomas de cada nação ("Eneida" de Virgílio, "Divina Comédia" com Inferno de Dante, "Os Lusíadas" de Camões, etc) até chegar às estruturas narrativas sintéticas como a anedota contada no barbeiro ou às parábolas bíblicas de Jesus Cristo.

Então esta "Semiótica" apresenta-se como sendo um método de compreensão do mundo por meio da narrativa em sequências tipo as fases do herói (actante ou ator que move o verbo ou "Dram" em grego, o drama é verbo conjugado em ação e requiita um sujeito e objeto para fazer sentido): - vc acordar, se vestir, sair de casa, trabalhar (atender ao chamado de uma "demanda do santo grau" do relatorio de vendas), brigar com um rival (oponente ou antagonista), ser ajudado (adjuvante ou adjetivo) cumprir provas -tarefas a serviço de um objetivo final, etc ..

Há dois tipos de confronto: Polêmica ou Contrato.

O plot é um contrato entre mandador e herói (comissário Gordon projeta Luz no Céu, Batman atende o chamado e do mandador Gordon recebe a missão ou demanda, seguem-se as fases narrativas ou episódios).

George Pelti catalogou 36 Plots ou temas narrativos, mas Lewis Herman reduziu a nove plots (Amor, Sucesso, Cinderela, Triângulo amoroso, da Volta ou Retorno, Vingança, Conversão, Sacrifício e Família).

3) Porém há um terceiro paradigma, a "Semiótica" de Peirce; um filósofo pragmatista dos USA, esta Semiótica é assumidamente uma "Lógica" de alta complexidade e um instrumento sofisticado, dividindo não só os signos da cultura bem como também incluindo a leitura não-verbal humana de fenomenologia da natureza; ordenando em um tipo de "árvore de Porfirio" de "triades" (ao contrário do binário da Semiologia) em:

A) "ícone" (Primeridade, Eixo Paradigmático, simultaneidade para David Hume) ;

B) "Índice" (Segundidade nível semântico : por exemplo o Sherlock Holmes analisando uma pegada na lama e dela deduzir altura e peso do suspeito) e

C) "Símbolo" (Terceiridade, eixo Sintagmatico, continuidade para David Hume).

Peirce abrange além de análise e sintese também aos processos de pensamento "Abdutivos" e "Heurísticos".

Agrupando os signos e seu processo de semiose-significação em dois eixos:

-"Sintagmatico" do símbolo e

- "Paradigmatico" do Ícone.

O livro "O que é Comunicação Poética" de Décio Pignatari, publicado na "coleção primeiros passos" da editora Brasiliense explica os dois eixos resumidamente de forma brilhante.

Décio Pignatari detalha melhor isto dos dois eixos e tríades com ricos exemplos no outro livro dele "Semiótica e Literatura".

Recomendo como imprescindível a leitura do artigo de Décio Pignatari "A Ilusão da Contiguidade" na revista "Através" número 1 da editora Martins Fontes.

Décio Pignatari foi expoente da "Poesia Concreta" e foi publicitário, em suas peças publicitárias empregou com sucesso a Semiótica em anúncios memoráveis de poética visual refinada.

A arquiteta Lucrécia D'Alessio Ferrara aplica a Semiótica de Peirce de forma deslumbrante nos livros dela "Ver a Cidade", "A Estratégia dos Signos", "Olhar Periférico", e "Leitura sem palavras".

A obra de Lucrécia veio a luz demonstrando constituir a cidade e o urbanismo tal qual sendo a orquestração simbólica como mensagem não-verbal de altíssima complexidade.

Philadelfo Menezes aplicou a mesma Semiótica em impressionantes "Poemas Visuais" e foi professor de pós graduacao na PUC de São Paulo junto a outros semioticistas de obra menos contundente e seminal.

A Semiótica de Peirce é complexa e ampla demais para explicar aqui, seria tão pretensioso como pretender resumir o "Organom" de Aristóteles com todas as tipologias de Silogismo (incluso irregulares: Entinema, Epiquerema, Dilema, Sorites, etc.) e as Falácias todas, tudo em um mero parágrafo;

mas garanto por experiência própria que a Semiótica funciona muito bem como instrumento lógico de leitura do mundo, e testemunho que eu mesmo hoje em dia abandonei a "Semiologia" e só faço uso da "Semiótica de Peirce" e da outra a qual eu agrupo e denomino como "Semiotica Narrativa" de Proop-Gremas-Todorov;

todavia somente as uso em um segundo momento de revisão, como mero apoio ao "Eixo Sintagmatico" peirceano.

Sugiro pesquisar estas "Semioticas" citadas acima, pois reitero serem úteis como instrumento lógico de análise.

Flavio Calazans zans zans.

-Escritor, desenhista de Histórias em Quadrinhos, tradutor-intérprete, Bacharel em Direito em curso de 5 anos, Bacharel em Comunicação, Mestre e Doutor pela ECA USP e Livre-Docente pela Unesp.



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