Cinemade Autor - parte um

"Nossa geração tem consciência, queremos fazer filmes
anti-industriais, queremos fazer filmes de autor,
quando o cineasta passa a ser um artista comprometido
com os grandes problemas do seu tempo."
Glauber Rocha

Hollywood é a rede da indústria cinematográfica norte-americana, fábrica de filmes em linha de montagem, comerciais que querem vender ingressos e agradar o público; anestesiar e alinhar politicamente é sua razão de ser e função.

O sistema não é perfeito, por isso surge um diretor importado da Europa como Paul Verhoeven, cuja mensagem pessoal é o reencontro consigo mesmo, a reconquista da humanidade perdida e corrompida pelo mundo violento. Esta é a mensagem e argumento de um Robocop ou Show Girls, mesmo que restrita à última fala da cena final, quando Murph fala seu nome próprio ou a dançarina volta à estrada, dando as costas ao pseudo-sucesso.

Ao contrário dos EUA, na Europa, Japão e América Latina surge o cinema de arte ou cinema de autor.

Cinema de autor é um tipo de cinema onde o diretor escreve o roteiro e dirige os atores, é uma obra pessoal, viva, humana, visceral, atual e tocante; o nome do diretor garante um estilo de filme, como Tim Burton, Terrry Gillian, Spilberg, Hitchcock, Zé do Caixão, Walter Hugo Khouri, Glauber Rocha.

Estilo é uma visão de mundo, uma filosofia de vida, política e social, é um modo de escolher atores (Felini), movimentar a câmera (Raimi), usar sangue em câmera lenta (Peckinpah), longos travelings (Hitchcock), multidões (Kurosawa) ou fazer metáforas poéticas (Terry Gilliam); ou seja, a técnica a serviço da mensagem para sensibilizar, tocar nossa consciência.

Sensibilidade e gosto estético não são somente inatos, sensibilidade pode ser apurada, educada, aumentada pelo exercício, ser refinada para a contemplação e o prazer estético de apreciar arte, ser sutil e inteligente, sofisticado.

Por isso um diretor-autor com ritmo lento pode parecer chato ou difícil no começo, mas é idêntico ao que acontece quando experimentamos um prato diferente: a gente estranha um pouco mas vai se acostumando ao sabor... quem sempre comeu no McDonalds estranha um estrogonofe com vinho, mas depois de várias vezes aprende a gostar, a degustar, ser até gourmet e tirar o máximo prazer da vida.

Este é outro segredo do cinema de autor: é preciso assistir 4 ou 5 filmes do diretor para ir se acostumando a linguagem dele, aos temas, ao estilo pessoal criado e que é perceptível em cada filme.

Torna-se necessário analisar um conjunto de filmes para perceber a autoria que pode estar no tom, nas cores, no clima; como a neve em Tim Burton (Eduard Mãos de Tesoura, Batman I e II, Estranho Mundo de Jack).

Assim, o cinema de autor gera uma obra tão pessoal como a pintura ou poesia, seu diretor é um autor como poderia ser autor de peças teatrais como Sheakspeare ou Nelson Rodrigues.

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