SHIRLEI MASSAPUST comenta as GUERRAS CALAZANISTAS
Terminei de ler Guerra das Ideias e A Guerra dos Golfinhos, ambos de autoria de Flavio Calazans. Apesar da temática superficialmente variável, todos os ingredientes da obra do artista aparecem ideologicamente uniformes e organicamente conectados.
Curiosamente, nas falas dos personagens de Guerra das Ideias os balões redondos são os comentários libertários-democráticos-humanistas, idealizados no hemisfério direito do cérebro humano, ao passo que os balões quadrados são ideias autoritárias (centralizadoras-ditatoriais-opressoras), provenientes do hemisfério esquerdo. (Qualquer semelhança com os comentários redondos e quadrados das propagandas da cerveja Skol é mera coincidência).
A riqueza de detalhes nos cenários submarinos, na A Guerra dos Golfinhos, e figurinos de época, na Guerra das Ideias, não foi alcançada sem algum sacrifício pessoal. Ambas as guerras calazianistas são do tempo em que não havia Google, e nem mesmo o velho Altavista, para auxiliar um desenhista internauta a localizar rapidamente, por exemplo, algumas fotos com modelos de armaduras de samurai. Logo, não sendo possível simplesmente imaginar isto, era necessário frequentar bibliotecas ou até investir em bibliografia nas livrarias-sebo para estudo de anatomia animal, padrões iconográficos, etc.
Foi uma feliz surpresa descobrir que Calazans teve muitos convites para publicar HQs curtas “com o boom de fanzines dos anos 80” . Então a Guerra das Ideias foi primeiramente um projeto para fanzine? Melhor assim! Há pelo menos um autor digno de nota, o qual defendeu que a arte do fanzine é mais sincera e espontânea, podendo possuir valores axiológicos superiores às publicações de massa.
Depois que o psiquiatra Fredric Wertham (1895-1981) publicou seu afamado livro Seduction of the Innocent (1954), onde ele critica a indústria de romances gráficos norte-americana de sua época, o público alvo reagiu de modo inusitado, enviando grande quantidade de fanzines.
Diante da obviedade da qualidade, plena liberdade de expressão e diversidade da arte amadorística de “fãs” independentes, até o grande antagonista da indústria de gibis ficou maravilhado ao ponto de agradecê-los publicamente pelas críticas à sua crítica e responde-los com o elogioso livro The World of Fanzines: A Special Form of Communication (1973).
O termo fanzine abrevia o inglês fan magazine, a revista do fã, porque muitos eram produções caseiras de fãs de bandas sobre o itinerário destas bandas, de fãs de ficção científica sobre tudo que diz respeito a ficção científica, etc. Os melhores eram obras mestras de jovens autores amadores fazendo não uma imitação de seus ídolos, mas verdadeiro trabalho autoral; trazendo a semente de algo inédito, como uma guerra de golfinhos, que nenhuma obra feita sob encomenda e sob a vigência dum contrato de trabalho poderia conter. (Finalmente um protagonista descobriu o que há no sumidouro do Triângulo das Bermudas e voltou para nos contar, hehe).
Também no Japão o dōjinshi (同人誌) – fanzine – tem vantagens e desvantagem frente ao mangá (漫画); que á a palavra usada para designar o romance gráfico em qualquer estilo, inclusive os quadrinhos estrangeiros, desde que editados por grandes editoras, conforme as regras do mercado editorial, geralmente em alta tiragem.
Os quadrinhos de Calazans reúnem o melhor de dois mundos; preservam a liberdade anarquista do fanzine com a qualidade gráfica do formato de livro (e não mais dum impresso em papel jornal ou obra artesanal com dobras de xerocópias), em tiragem condigna. Guerra das Ideias e A Guerra dos Golfinhos se encontram, respectivamente, na 6ª e 5ª edições.
(cenas dos anúnciospublicitários de televisão de 2017 com a coincidência dos balões redondos e quadrados da "GUERRA DAS IDEIAS" de Flavio Calazans, nos quais uma fala redonda é politicamente correta e uma fala quadrada é preconceituosa, vale ressaltar que o formato dos balões indicando o teor de seu conteúdo foi empregado por Calazans em 1985-1986, trinta anos antes do comercial de 2017) Shirlei Massapust é bacharel em Direito pela UNESA, e bacharel em Filosofia pela UFRJ, aguardando o tramite da expedição do diploma de mestre em Filosofia pelo CEFET-RJ.
Curiosamente, nas falas dos personagens de Guerra das Ideias os balões redondos são os comentários libertários-democráticos-humanistas, idealizados no hemisfério direito do cérebro humano, ao passo que os balões quadrados são ideias autoritárias (centralizadoras-ditatoriais-opressoras), provenientes do hemisfério esquerdo. (Qualquer semelhança com os comentários redondos e quadrados das propagandas da cerveja Skol é mera coincidência).
A riqueza de detalhes nos cenários submarinos, na A Guerra dos Golfinhos, e figurinos de época, na Guerra das Ideias, não foi alcançada sem algum sacrifício pessoal. Ambas as guerras calazianistas são do tempo em que não havia Google, e nem mesmo o velho Altavista, para auxiliar um desenhista internauta a localizar rapidamente, por exemplo, algumas fotos com modelos de armaduras de samurai. Logo, não sendo possível simplesmente imaginar isto, era necessário frequentar bibliotecas ou até investir em bibliografia nas livrarias-sebo para estudo de anatomia animal, padrões iconográficos, etc.
Foi uma feliz surpresa descobrir que Calazans teve muitos convites para publicar HQs curtas “com o boom de fanzines dos anos 80” . Então a Guerra das Ideias foi primeiramente um projeto para fanzine? Melhor assim! Há pelo menos um autor digno de nota, o qual defendeu que a arte do fanzine é mais sincera e espontânea, podendo possuir valores axiológicos superiores às publicações de massa.
Depois que o psiquiatra Fredric Wertham (1895-1981) publicou seu afamado livro Seduction of the Innocent (1954), onde ele critica a indústria de romances gráficos norte-americana de sua época, o público alvo reagiu de modo inusitado, enviando grande quantidade de fanzines.
Diante da obviedade da qualidade, plena liberdade de expressão e diversidade da arte amadorística de “fãs” independentes, até o grande antagonista da indústria de gibis ficou maravilhado ao ponto de agradecê-los publicamente pelas críticas à sua crítica e responde-los com o elogioso livro The World of Fanzines: A Special Form of Communication (1973).
O termo fanzine abrevia o inglês fan magazine, a revista do fã, porque muitos eram produções caseiras de fãs de bandas sobre o itinerário destas bandas, de fãs de ficção científica sobre tudo que diz respeito a ficção científica, etc. Os melhores eram obras mestras de jovens autores amadores fazendo não uma imitação de seus ídolos, mas verdadeiro trabalho autoral; trazendo a semente de algo inédito, como uma guerra de golfinhos, que nenhuma obra feita sob encomenda e sob a vigência dum contrato de trabalho poderia conter. (Finalmente um protagonista descobriu o que há no sumidouro do Triângulo das Bermudas e voltou para nos contar, hehe).
Também no Japão o dōjinshi (同人誌) – fanzine – tem vantagens e desvantagem frente ao mangá (漫画); que á a palavra usada para designar o romance gráfico em qualquer estilo, inclusive os quadrinhos estrangeiros, desde que editados por grandes editoras, conforme as regras do mercado editorial, geralmente em alta tiragem.
Os quadrinhos de Calazans reúnem o melhor de dois mundos; preservam a liberdade anarquista do fanzine com a qualidade gráfica do formato de livro (e não mais dum impresso em papel jornal ou obra artesanal com dobras de xerocópias), em tiragem condigna. Guerra das Ideias e A Guerra dos Golfinhos se encontram, respectivamente, na 6ª e 5ª edições.
(cenas dos anúnciospublicitários de televisão de 2017 com a coincidência dos balões redondos e quadrados da "GUERRA DAS IDEIAS" de Flavio Calazans, nos quais uma fala redonda é politicamente correta e uma fala quadrada é preconceituosa, vale ressaltar que o formato dos balões indicando o teor de seu conteúdo foi empregado por Calazans em 1985-1986, trinta anos antes do comercial de 2017) Shirlei Massapust é bacharel em Direito pela UNESA, e bacharel em Filosofia pela UFRJ, aguardando o tramite da expedição do diploma de mestre em Filosofia pelo CEFET-RJ.
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