Futuroscope em Poitiers

Em Paris, França, é bem cedinho pela manhã e fui até a estação de trem e, em uma daquelas máquinas automáticas, comprei um bilhete de TGV (Train de Grand Vitesse-trem de grande velocidade) que tive de furar em outra máquina alí na plataforma.
O trem é tão rápido que os vilarejos pitorescos do interior passam como manchas pela janela, e em poucas horas cruzei todo o país e estava descendo em Poitiers, velha cidade medival que abriga uma biblioteca de fanzines-imprensa alternativa, a “Fanzinothèque de Poitiers” e, como toda vila francesa, uma Catedral medieval de estilo Gótico; Poitiers é famosa por ser o lar de Giles de Rais, cavaleiro e marechal que lutou junto com Joanna D’Arc e que depois dela ser queimada como bruxa pela Igreja Católica (mesma Igreja que depois a canonizou Santa) tornou-se feiticeiro e bruxo, e a cidade também deteve o avanço dos mouros vindos da Espanha, esta e a História antiga, hoje ela abriga o Futuroscope.
Na estação de trem peguei um taxi coletivo que custou 40 francos franceses e depois comprei bilhete de um dia para visitar o Futuroscope.
O Parque Futuroscope é financiado pelo Departamento de Vienne, congrega centros de pesquisa gerenciados pela Universidade de Poitiers dedicando-se a pesquisar o Futuro em todas as suas possibilidades de Tecnologias de Ponta, a construção foi iniciada em 1993 com o custo de Mil e quatrocentos milhões de francos franceses, e neste mesmo ano recebeu 1.900.000 visitantes pagantes, revitalizando a economia local como um parque temático de divulgação científica, entretenimento educativo (edutainmente) e pesquisa avançada em um espaço imenso, uma verdadeira cidade cujos edifícios ficam bem distantes uns dos outros separados por gramados floridos e um paisagismo extremamente bem cuidado.
Futuroscope impressiona primeiramente por sua inovadora Arquitetura, resultado de investigação internacional que incluiu até visitas a Brasília e outras cidades novas por René Mondry, para a “Arquitetura a serviço de uma idéia” com resultados magníficos que recordam experimentos de arte conceitual, instalações artísticas; esta arquitetura é, por sí só, um espetáculo visual que choca e impressiona à primeira vista, mostra-se além da possibilidade da mera descrição em palavras, pois a observação mais meticulosa dos detalhes dos edifícios evidencia uma sólida pesquisa de materiais de construção diferentes, como fibras sintéticas inovadoras e até mesmo paredes feitas de cachoeiras de água corrente modelando o prédio e isolando o interior, mas mantendo a transparência sob um véu de movimento que permite ver de dentro para fora, mas obstrui o voyer de fora para dentro.
Edificações redondas, outras irregulares como um cristal vitrificado brotando da terra frente a um lago, tudo em escala gigantesca, um impacto tecnológico que deixa a todos os visitantes boquiabertos e estupefatos como crianças maravilhadas ao entrar dentro de um futuro de infitas possibilidades.
Logo na entrada peguei um fone de ouvido com diversos canais que efetua a tradução simultânea do francês, obviamente, como brasileiros e portugueses nunca vão lá, só é disponível a tradução em Espanhol (virando os botões também encontrei Inglês com sotaque da Inglaterra e Alemão), o aparelho impressionantemente funciona com infravermelho, não emprega ondas Hertz (O Futuroscope é em um vale e as ondas curtas da vibração infravermelha não dispersam, é como Amplitude Modulada do rádio empregando outras faixas do espectro da luz), é uma das inovações tecnológicas, empregando tecnologias da luz, como as telecomunicações empregando as vítreas fibras opticas e as holografias.
O sentimento é de estar mesmo dentro de uma utopia, uma cidade do futuro com qualidade de vida européia, ritmo europeu, sem estresse e com relaxante visual paisagístico.
O Futuroscope oferece mais de 40 opções, das 10 horas da manhã até as 19 horas-horário final dos taxis de retorno e do trem (TGV) para Paris, conseguí visitar apenas sete das quarenta ( O Futuroscope exige muitos dias de visita!) as sete foram as seguintes:

1) Videowall de 850 telas no Pavilhão La Vienne, mostrando um panorama sócio-econômico-cultural da região.
2) “Vienne Dinamique”- um simulador com cadeira que move-se sincronizada à tela, em um vôo pelas cidades, vales floridos, flora e fauna local-chegando a descer de uma panorâmica sobre a catedral até um zoom em câmera subjetiva para os paralelepípedos de granito do calçamento e entrando pela janela de uma casinha do vilarejo para ver a cozinha, o mesmo das copas das árvores até um rasante sobre um lago e um mergulho dentro dele; impressiona o filme ser feito todo sem cortes, como uma câmera constante e ultra-veloz que mesmeriza pela vertigem e dá uma sensação subliminar de conhecer bem toda a região, mais do que diversas visitas fariam.
3) Pavilhão a Comunicação-a história das formas de comunicação das cavernas aos satélites, empregando raios LASER coloridos gerados em fibras opticas.
4) Showscan-cinema que emprega película mas no ritmo de 60 quadros por segundo (o tradicional usa 24 fotogramas por segundo), e este ritmo sobrecarrega a visão, cria uma indescritível ilusão de realidade que deixa o labirinto do ouvido interno iludido dos movimentos da tela, é difícil ficar em pé depois da sessão.
5) Tapete Mágico- A projeção ocorre simultaneamente na parede e teto e sob os pés em um galpão fundo sob o piso de vidro, acompanhamos uma mariposa francesa que migra sobre o atlântico, cruzando o oceano para cruzar nas florestas petrificadas do Canadá francês, de novo em câmera subjetiva voamos dentro de uma revoada de irmãs-mariposas sobrevoando ilhas, tempestades e navios petroleiros guiados por satélites, impossível não identificar-se com o inseto e seu ecossistema.
6) Omnimax-Cinema redondo com 360 cadeiras inclinadas, quase deitadas, onde o teto é uma tela que ocupa todo o campo de visão, dando outro tipo de sensação de imersão.
7) Hologramas-no prédio cristal, exposição de hologramas, processo holográfico gerando arte, holoarte, tecnologia laser em imagens coloridas perfeitas e tridimensionais que eu nunca tinha visto antes.

Devido ao tempo exígüo, das 40 opções só visitei estas sete, faltando 33.
Este contato vivenciando tecnologias de ponta faz refletir sobre os novos suportes de arte e de arquitetura, e novas formas velozes de transmissão de dados por espectro da luz-infravermelho, raios gama, etc, além de fibras opticas manufaturadas em gravidade zero e holografias coloridas.
Tudo isto fez-me recordar da teoria lançada em 1993 por Régis Debray, a MIDIOLOGIA , que ocupa-se da eficácia dos meios de comunicação, os Média, retomando conceitos do Canadense Marshall MacLuhan, pois os suportes das mensagens-signagens culturais vem sofrendo um processo de suavização; pesadas esculturas, alto-relevos e mosaicos de pedrinhas eram colados às paredes dos castelos e catedrais, integradas à arquitetura, parte do Imóvel; depois os afrescos pintados ainda colados ao gesso das paredes e depois as tapeçarias e quadros pintados com tinta a óleo em madeira que podiam ser transportadas e eram feitas em suporte mais leve, então as pinturas em tela que podiam ser enrroladas, bem móveis, seguidas da Televisão, Rádio, Holografia e Internet.

Futuroscope foi uma experiência de vida, a ser rememorado e estudado, e planejo em breve voltar lá com mais tempo.

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