Tiranos Caem e velha reza -São Tomás de Aquino
`TRATAMENTOS DOS TIRANOS´
São Tomás de Aquino
«Parece que proceder contra a c...rueldade dos tiranos é uma acção para ser empreendida, não pela presunção privada de uns tantos, mas antes pela autoridade pública.
«Se obter um rei pertence ao direito de uma dada multidão, não é injusto que o rei seja deposto ou tenha o seu poder restringido por essa mesma multidão se, ao tornar-se um tirano, ele abusa do poder real. Não se deve pensar que tal multidão está a actuar com infidelidade ao depor o tirano, mesmo que antes se tenha sujeitado a ele em perpetuidade, pois foi ele mesmo que mereceu que o pacto com os seus súbditos não seja cumprido pois, ao governar a multidão, ele não actuou fielmente como exige o cargo de rei» (...)
«De facto, se não há um excesso de tirania é mais útil tolerar a tirania limitada por algum tempo do que, agindo contra o tirano, envolver-se em muitos perigos mais graves que a própria tirania. Porque pode acontecer que aqueles que agem contra o tirano não sejam capazes de vencer e então o tirano ainda se enfurece mais. Mas, mesmo que se consiga vencer o tirano, deste próprio facto frequentemente nascem graves dissensões entre o povo. A multidão pode dividir-se em facções, quer durante a revolta contra o tirano, quer no processo de organizar o governo depois do tirano ser deposto. Além disso, acontece por vezes que, tendo a multidão conseguido expulsar o tirano com a ajuda de um homem, este, tendo recebido o poder, assume a tirania. Então, temendo sofrer de outro o que ele fez ao seu predecessor, ele oprime os seus súbditos com uma escravatura ainda mais séria. É frequente acontecer na tirania, que o segundo se torna mais opressor que o precedente pois, sem abandonar as antigas opressões, ele próprio, da malícia do seu coração, pensa em outras novas opressões.
«Por isso, em Siracusa, no tempo em que toda a gente desejava a morte de Dionísio, uma certa velhinha constantemente rezava para que não lhe acontecesse mal e ele vivesse mais tempo que ela. Quando o tirano soube disto, perguntou-lhe porque razão ela o fazia. E ela respondeu: “Quando eu era rapariga nós tínhamos um tirano muito cruel e eu desejava a sua morte. Quando ele foi morto, sucedeu-lhe um que era um pouco mais cruel que ele. Eu também estava ansiosa por ver o fim do seu domínio, mas então tivemos um terceiro tirano, ainda mais cruel. Este eras tu. Por isso, se tu fores levado, um pior vai suceder-te no teu lugar”» (De Regno I 6)
São Tomás de Aquino
«Parece que proceder contra a c...rueldade dos tiranos é uma acção para ser empreendida, não pela presunção privada de uns tantos, mas antes pela autoridade pública.
«Se obter um rei pertence ao direito de uma dada multidão, não é injusto que o rei seja deposto ou tenha o seu poder restringido por essa mesma multidão se, ao tornar-se um tirano, ele abusa do poder real. Não se deve pensar que tal multidão está a actuar com infidelidade ao depor o tirano, mesmo que antes se tenha sujeitado a ele em perpetuidade, pois foi ele mesmo que mereceu que o pacto com os seus súbditos não seja cumprido pois, ao governar a multidão, ele não actuou fielmente como exige o cargo de rei» (...)
«De facto, se não há um excesso de tirania é mais útil tolerar a tirania limitada por algum tempo do que, agindo contra o tirano, envolver-se em muitos perigos mais graves que a própria tirania. Porque pode acontecer que aqueles que agem contra o tirano não sejam capazes de vencer e então o tirano ainda se enfurece mais. Mas, mesmo que se consiga vencer o tirano, deste próprio facto frequentemente nascem graves dissensões entre o povo. A multidão pode dividir-se em facções, quer durante a revolta contra o tirano, quer no processo de organizar o governo depois do tirano ser deposto. Além disso, acontece por vezes que, tendo a multidão conseguido expulsar o tirano com a ajuda de um homem, este, tendo recebido o poder, assume a tirania. Então, temendo sofrer de outro o que ele fez ao seu predecessor, ele oprime os seus súbditos com uma escravatura ainda mais séria. É frequente acontecer na tirania, que o segundo se torna mais opressor que o precedente pois, sem abandonar as antigas opressões, ele próprio, da malícia do seu coração, pensa em outras novas opressões.
«Por isso, em Siracusa, no tempo em que toda a gente desejava a morte de Dionísio, uma certa velhinha constantemente rezava para que não lhe acontecesse mal e ele vivesse mais tempo que ela. Quando o tirano soube disto, perguntou-lhe porque razão ela o fazia. E ela respondeu: “Quando eu era rapariga nós tínhamos um tirano muito cruel e eu desejava a sua morte. Quando ele foi morto, sucedeu-lhe um que era um pouco mais cruel que ele. Eu também estava ansiosa por ver o fim do seu domínio, mas então tivemos um terceiro tirano, ainda mais cruel. Este eras tu. Por isso, se tu fores levado, um pior vai suceder-te no teu lugar”» (De Regno I 6)
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